Dia a Dia

Semana Aracaju Acessível tem Encontro de Comunicadores e lançamento da campanha Bengala Verde

Data de Publicação: 18 de Setembro de 2018

#PraCegoVer - Guilherme Pereira ministra palestra. Também no palco, Railton Correia e Lucas Aribé

#PraCegoVer - Guilherme Pereira ministra palestra. Também no palco, Railton Correia e Lucas Aribé

 

“Presa a uma cadeira de rodas, dona Solange não se deu por vencida e criou o único maracatu de baque parado do estado”; “Ricardo Molares, que mesmo sendo uma pessoa com deficiência, trabalha há mais de 20 anos vendendo balas...”; “Executivos do Google são condenados por vídeo sobre vítima de down”. Foi com essas e outras frases preconceituosas, extraídas de notícias publicadas em sites e jornais impressos tradicionais, que o pesquisador alagoano Guilherme Pereira, mestrando em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas, ilustrou o preconceito que ainda permeia a imprensa brasileira, quando as pessoas com deficiência estão em pauta.

#PraCegoVer - Evento aconteceu no auditório do Senac

#PraCegoVer - Evento aconteceu no auditório do Senac

 Guilherme foi o palestrante do Encontro de Comunicadores promovido na noite dessa segunda-feira, 17, no auditório do Senac, como parte da programação da 6ª Semana Aracaju Acessível, que este ano tem como tema-central “Comunicar para Incluir”. O pesquisador orientou os jornalistas sobre como se referir a uma pessoa com deficiência no texto e tratá-la durante uma entrevista sem provocar constrangimentos.

“A primeira coisa é não negar a deficiência. Não se sinta constrangido em perguntar a uma pessoa com deficiência visual se ela “viu” isto ou aquilo. O mesmo vale para termos como “correria”, “corre-corre” e ditados como “dar um passo maior do que a perna” ao se falar com uma pessoa com deficiência física”, exemplifica o palestrante.

#PraCegoVer - Rozendo Aragão, jornalista e radialista, exibe guia para comunicadores distribuído no evento

#PraCegoVer - Rozendo Aragão, jornalista e radialista, exibe guia para comunicadores distribuído no evento

 “Se vai entrevistar uma pessoa com deficiência, pergunte diretamente a ela. Não utilize intermediários. E o excesso de benevolência também não é bem-vindo. Essas pessoas não são “coitadinhas”. Trate-as com imparcialidade, como trataria uma pessoa dita sem deficiência”, acrescenta Guilherme.

Atento a cada palavra do pesquisador, o jornalista e radialista Rozendo Aragão diz que as informações acabaram com alguns receios que ele tinha ao tratar de temas relacionados às pessoas com deficiência. “Eu ficava com medo de usar a palavra “deficiência”, mas agora entendo que ela pode ser utilizada naturalmente. Aquelas muralhas todas que eu tinha, e que talvez alguns colegas das redações ainda tenham, caíram”, avalia.

 

#PraCegoVer - Railton lança oficialmente a campanha Bengala Verde em Sergipe

#PraCegoVer - Railton lança oficialmente a campanha Bengala Verde em Sergipe

Bengala Verde
Além da palestra para comunicadores, o presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe (Adevise), Railton Correia Junior, lançou oficialmente a campanha Bengala Verde no Estado. Segundo Railton, a bengala verde é uma forma de facilitar a identificação de pessoas com baixa visão que geralmente não são vistas pela sociedade.

“Vamos aos exemplos. Hoje existe uma preocupação com material didático em braile, mas eu não vejo material didático com letra ampliada, para quem enxerga pouco. Não tem. Nas teclas do telefone público tem braile, mas alguém já viu orelhão com números grandes? Não tem. Nos terminais de transporte coletivo, as pessoas com baixa visão ficam feito loucas, correndo de um lado para o outro, tentando identificar o ônibus que precisam tomar. Então o mundo ainda não está preparado para as pessoas que não têm baixa visão, porque nós não somos vistos”, argumenta o presidente da Adevise.

A bengala verde foi criada em 1996 pela professora uruguaia de educação especial Perla Mayo, que atua na Argentina. O Grupo Retina São Paulo trouxe o projeto para o Brasil em 2014 e atualmente promove a campanha Bengala Verde para disseminar a iniciativa em território nacional. O projeto também existe em países como Nicarágua, Colômbia, Paraguai, México, Equador, Bolívia, Costa Rica, Venezuela e Uruguai. 

Depois de Juiz de Fora (MG) e Cuiabá (MT), Aracaju pode ser a terceira cidade brasileira a instituir o uso da bengala verde como instrumento auxiliar de orientação, apoio, mobilidade e identificação de pessoas diagnosticadas com baixa visão. O projeto de lei nº 148/2018, de iniciativa da Adevise e autoria do vereador Lucas Aribé, já está protocolado na Câmara.

São considerados de baixa visão todos os indivíduos que possuem menos de 30% da visão no melhor olho. Essas pessoas são comumente confundidas com os cidadãos completamente cegos, pois também utilizam a tradicional bengala branca para se locomover. Como a baixa visão permite a execução de algumas tarefas que seriam impossíveis para quem tem cegueira total, um cidadão com baixa visão acaba exposto a situações constrangedoras e perigosas. Em muitos casos, é hostilizado ou agredido fisicamente após ser equivocadamente identificado como alguém que finge ter uma deficiência visual para tirar vantagem de alguma situação.

Muitas vezes, as pessoas com baixa visão também são confundidas com os indivíduos acometidos de transtornos psicológicos. Isso ocorre em situações corriqueiras, a exemplo de quando demoram um pouco mais para tomar alguma decisão simples, como escolher um alimento num buffet por quilo. E tudo parte do desconhecimento da população.