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Ele é Inquebrável

Data de Publicação: 20 de Abril de 2017

A imagem do lado esquerdo mostra o atleta Fernado Fernandes dentro da canoa durante a prova e a do lado direito o mostra com a medalha no pescoço no momento da vitória na competição

A imagem do lado esquerdo mostra o atleta Fernado Fernandes dentro da canoa durante a prova e a do lado direito o mostra com a medalha no pescoço no momento da vitória na competição

Com 1,89 metro de altura e 90 quilos, Fernando Fernandes define seu corpo como sendo de um "monstro" da cintura pra cima e de alguém que requer cuidados especiais da cintura pra baixo. Foi levando a sua metade "monstro" ao limite que ele pedalou com os braços uma handbike por 200 quilômetros no deserto de sal da Bolívia; remou 150 quilômetros no rio Xingu; desceu uma corredeira com cachoeiras de até 12 metros em Minas Gerais e esquiou montanhas virgens (sem pistas de esqui) na Noruega. Os desafios extremos em meio à natureza selvagem podem ser conferidos na série Além dos limites, que estreia no dia 27 deste mês no Canal Off, e no quadro "Sobre rodas", no programa Esporte espetacular, da Rede Globo.

O atleta de aventura e repórter de TV é a mais nova encarnação do filho de comerciários que cresceu na Vila Mariana, bairro de classe média paulistana. Aos 36 anos, prestes a lançar a biografia Inquebrável (sai em junho pela ed. Paralela), Fernando faz um balanço de sua trajetória de modelo internacional a participante do Big Brother Brasil; do acidente de carro que o deixou paraplégico, em 2009, ao tetracampeonato mundial na paracanoagem; da paranoia dos tempos de celebridade de reality show ao trabalho no Instituto Fernando Fernandes Life, que ajuda crianças com dificuldades motoras a se reinserirem na sociedade por meio da canoagem.

O momento é de transformação. Tetracampeão mundial de paracanoagem, tri pan-americano, tetra sul-americano e penta brasileiro, ele abandonou as competições de alta velocidade após uma série de embates contra o sistema de classificação que define os atletas paraolímpicos de acordo com sua funcionalidade. "É um sistema totalmente falho, que permite alguém com mais mobilidade passar para uma categoria que não deveria ser a dele e levar vantagem. O fato de eu não ter sido classificado para as Paralimpíadas do Rio 2016 tem tudo a ver com isso", desabafa. 

Você tinha fama de ser um cara brigão, estourado e já foi preso por desacato a autoridade. Você se tornou um ser humano melhor depois do acidente? Sem dúvida. Fiz um monte de merda no passado, mas aprendi a canalizar as minhas raivas e frustrações. Antes eu era um cara com o sonho de ser um atleta e, de repente, aceitei fazer parte de um reality show [na segunda edição do programa Big Brother Brasil, em 2002]. Até então eu era um moleque tímido, amigo dos amigos, que gostava das coisas simples, de samba e futebol. De repente, virei o modelo do reality show, um pedaço de carne que todo mundo queria. Como lidar com aquilo aos 20 anos? Que preparo eu tinha para toda aquela exposição? Era o começo dos paparazzi de sites de fofoca. Quando saí do programa, para onde eu olhava, tinha alguém me fotografando.

Você deu uma pirada nessa época? Total. Aquilo me dava raiva, cheguei a ficar paranoico, com mania de perseguição. Saía e ficava o tempo todo olhando para os lados, achando que estava sendo perseguido. Pensava: “Caralho, que porra é essa? Todo mundo me olhando, querendo arrancar um pedaço de mim”. Quando aceitei fazer parte do programa, vi a oportunidade de ganhar dinheiro, mas não pensei no que aquilo ia gerar depois. Pensei: “São 12 pessoas jogando na Loto, vou ganhar essa grana”. Mas aí você percebe que está num laboratório humano. A explosão vale, o que é errado é bom. Fui me perdendo nesse percurso porque eu queria deixar tudo aquilo, mas, ao mesmo tempo, não conseguia largar o osso porque era o que me dava retorno financeiro. Eu fazia um trabalhinho e ganhava não sei quantos mil reais. Mas eu queria viver do esporte, sempre foi a minha paixão. Aí foi passando o tempo e, aos 26 anos, voltei pra faculdade de educação física. Também foi um choque porque eu era assediado o tempo todo. Acordava e sofria pensando no que ia enfrentar na sala de aula. Fiz várias faculdades diferentes – FMU, Unip e Uni Ítalo – e nunca consegui me formar.

Por Lia Hama

Foto: Arquivo pessoal

Fonte: http://revistatrip.uol.com.br/trip/fernando-fernandes-modelo-big-brother-brasil-canoagem